Ex-faxineira que virou juíza lança livro sobre sua história: 'É possível concretizar os sonhos'
A juíza de direito Adriana Marques Queiroz, de 38 anos, lança, o livro "Dez passos para alcançar seus sonhos - A história real da ex-faxineira que se tornou juíza de direito", em Goiânia. Na obra, ela conta sua trajetória desde o seu primeiro trabalho, como faxineira, até chegar à magistratura, na qual atua desde 2011, em Quirinópolis, na região sul de Goiás.
Em entrevista ao G1, a magistrada relata uma infância pobre, passando por desafios que colocaram à prova seus sonhos e por pessoas que a ajudaram até a aprovação no concurso público para juíza. Adriana quer, com o livro, incentivar as outras pessoas a seguirem em busca dos seus sonhos.
"Quando tomei posse, em 2011, muitas pessoas me procuraram pedindo dicas sobre como conseguir o que se almeja. Ali surgiu a vontade de escrever um livro mostrando que não é fácil, mas é possível. Quando me tranquilizei na carreira, comecei a escrever para levar essa mensagem e incentivar as pessoas mostrando que é possível concretizar os sonhos desde que haja empenho", disse.
Adriana é titular da 1ª Vara Cível e da Vara de Infância e da Juventude de Qurinópolis, cidade goiana que entrou na vida dela por acaso. Os pais deixaram a zona rural de Guanambi, no sertão da Bahia, e se mudaram com os seis filhos para Tupã, no interior de São Paulo em busca de melhores condições de vida.
Caçula da família, Adriana percebeu cedo a importância dos estudos. Durante o ensino médio - todo cursado em colégio público - ela começou a alimentar o sonho de fazer direito. Com 18 anos, ela passou no vestibular em uma universidade particular, mas, para tentar pagar os estudos, começou a trabalhar como faxineira.
Entre o esfregão e os estudos
Adriana começou a procurar trabalho e conseguiu uma vaga de faxineira na Santa Casa de Tupã. Porém, o que recebia no emprego era insuficiente para manter os estudos e os pais não tinham condições de ajudar. Com esse desafio, ela pediu uma bolsa ao diretor do curso.
"Fui até faculdade e procurei o diretor do curso de direito. Falei dos meus sonhos e que não poderia deixar passar aquela oportunidade. Vendo o meu empenho, ele me concedeu uma bolsa de 50% nas mensalidades e ainda parcelou a matrícula, o que possibilitou eu fazer o curso", lembra.
Durante o dia, Adriana era responsável pela limpeza do chão e dos banheiros da unidade de saúde. À noite, seguia em busca de seu sonho na universidade. Após seis meses, foi promovida e passou a atuar em um cargo administrativo do hospital, que ocupou até se formar em direito.
Concurso: um novo desafio
Ao se formar, a jovem bacharel começou a lutar para chegar à função de juíza, que começou a apreciar durante a universidade. Decidida, pediu demissão do hospital, pegou o acerto e se mudou sozinha para a capital paulista.
O dinheiro, segundo ela, cobria apenas aluguel por dois meses em um pensionato. O intuito era conseguir um emprego para, além das despesas, pagar um curso preparatório para a carreira jurídica, visando um concurso público. No entanto, não conseguiu trabalho e o dinheiro que tinha começou a acabar.
Vi meu sonho ruindo, mas busquei ajuda com o diretor do curso e fui atendida. Ele acreditou em mim e me ofereceu um trabalho como auxiliar de biblioteca, além de bolsa integral", lembra.
Um ano depois, findado o curso preparatório, ela seguiu trabalhando no local e estudando por conta própria durante sete anos, inclusive nos finais de semana e feriados. A recompensa, depois de muitas tentativas, foi a aprovação no concurso cujo cargo ocupa até então.
Mais conhecimento
Adriana é a única dos irmãos a se formar em um curso superior. Paralelo aos estudos para os concursos, ela concluiu cinco pós-graduações na área de direito. Mas ela não parou por aí. No ano passado, ela ingressou no curso de letras.
Adriana durante a formatura do curso de direito, em Tupã, SP (Foto: Arquivo pessoal)
"Eu vi uma oportunidade de continuar ganhando conhecimento. Essa área me permite ampliar o que sei sobre escrita e linguagem, além de gostar muito de literatura. O estudo é fundamental. Vou continuar sempre. Jamais pensei em desistir", destaca.
Adriana mantém contato estreito com sua família, a quem considera" sua base ". Ela se casou há dois anos e planeja, futuramente, realizar mais um sonho: ter filhos.
(Por Sílvio Túlio, G1 GO /Fonte: g1 globo)
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13 Comentários
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Meu único lamento é que pensamento como esse seja minoria. A maioria luta por cotas e prefere se agarrar ao vitimismo por fatos acontecidos há 200 anos atrás.
Realmente é uma pena que alguns abdiquem de suas capacidades e esforço individual em nome de "fazer justiça social".
Essa mulher merece os parabéns por todo esforço, todo o mérito é seu e somente seu. continuar lendo
Eu acho que o senhor não leu o texto ou não entendeu!! continuar lendo
Quem não entendeu foi você, @aletomin, releia meu post quantas vezes for necessário. continuar lendo
Resumindo... cotas serve para ajudar e o texto mostra que ela precisou da ajuda do diretor do curso da graduação ("Fui até faculdade e procurei o diretor do curso de direito. Falei dos meus sonhos e que não poderia deixar passar aquela oportunidade. Vendo o meu empenho, ele me concedeu uma bolsa de 50% nas mensalidades e ainda parcelou a matrícula, o que possibilitou eu fazer o curso" ) e do diretor do cursinho ("Vi meu sonho ruindo, mas busquei ajuda com o diretor do curso e fui atendida. Ele acreditou em mim e me ofereceu um trabalho como auxiliar de biblioteca, além de bolsa integral"). Não é vitimismo, é claro que sem essa ajuda, seria mais um sonho perdido, como tantos outros. Mérito para ela que lutou, mérito para as pessoas que ajudaram e demérito para aqueles que acreditam em meritocracia em um País tão desigual. continuar lendo
Mas gente ela só conseguiu se formar e estudar para concurso por causa da bolsa, não entenderam isso?rs
Senão estaria na faxina até hoje, sem perspectiva de nada.
A cota nada mais é que uma bolsa.
Tem para as pessoas de baixa renda (brancas e pretas) e também para pretos. continuar lendo
Parabéns pela superação isso motiva muitas pessoas. continuar lendo
Admirável, uma lutadora. continuar lendo
Que bom que a Adriana conseguiu!
Espero muito que, com o avanço de políticas públicas de inclusão, esses casos se tornem cada vez mais frequentes :)
Só não acho que dá pra esperar que todas as pessoas na condição da Adriana consigam ser fortes o suficientes para chegar lá, até por que entrar em um mercado tão competitivo quanto o Direito já é extremamente difícil, mesmo sem ter que lidar com tantas barreiras - em especial as financeiras, de gênero e étnica.
Reconheço meu privilégio e sei o quanto o ambiente jurídico pode ser cruel com pessoas que se desviam do "padrão" do aluno de Direito. continuar lendo