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26 de Abril de 2024

Ofensas sem palavrões: pequeno dicionário para xingar sem perder a erudição

Publicado por DR. ADEvogado
há 5 anos

Uma discussão no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) entre os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes foi uma lição involuntária de como discutir e proferir ofensas (quase) sem perder a pompa.

"Me deixe de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível", disse Barroso em reação a críticas feitas por Gilmar a supostas decisões incorretas suas."O senhor é a mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia."

Barroso disse em seguida, já bastante exaltado: "Qual é a sua ideia, a sua proposta? Nenhuma, nenhuma, nenhuma. É bílis, ódio, mau sentimento, mal secreto, é uma coisa horrível".

Poucos devem ter notado na hora, mas, como destacou o jornalista Vinicius Torres Freire, o termo "mal secreto", uma forma antiga de se referir à sífilis, é "um xingamento dos tempos da minha avó".

O que não faltam na língua portuguesa são formas de xingar com um verniz de erudição nas palavras disparadas contra o alvo da vez.

Você pode trocar estúpido por acéfalo, por exemplo. Se quiser xingar alguém de ladrão, pode dizer que é um amigo do alheio.

A quem é traiçoeiro, chame de insidioso. No lugar de morto de fome, que tal esfaimado? Na próxima vez que alguém não te der ouvidos, não hesite e grite: "Mouco!".

'Reverendíssima besta'

Luís Milanesi, autor de Dicionário Brasileiro de Insultos (2002, Ateliê Editorial), compilou esses e outros 3 mil termos em seu dicionário. Ele começou a fazer o livro por por acaso.

"Quando xingava as pessoas, fazia isso muitas vezes por escrito e buscava o significado no dicionário para ter certeza do que estava dizendo, porque a palavra escrita é permanente."

Entre suas expressões preferidas, está "reverendíssima besta", usada pelo escritor Mário de Andrade para insultar seus desafetos.

Milanesi também gosta de onagro ( burro ), mentecapto ( louco, idiota ) e sevandija ( quem vive às custas dos outros ).

Mas há um termo que ele deixou de usar depois de pesquisar melhor seu significado. "Nunca mais chamei alguém de babaca", conta.

"Na sua origem, o termo designava o órgão sexual feminino, provavelmente uma variação de tabaca. Mas por que isso é negativo? Tem um preconceito embutido ao falar isso do qual as pessoas não se dão conta."

'Sauna para a alma'

O escritor português Sérgio Luís de Carvalho, autor de Dicionário de Insultos (2014, Planeta), buscou a origem de 600 termos do tipo em nosso idioma.

Ele conta, por exemplo, que aberrante ( anormal ), vem do latim aberratio e, entre os romanos, designava quem andava sem destino. A partir do século 19, passou a ser usado para designar algo raro e desagradável.

"Insultar é importante, porque é uma sauna para a alma. Traz um alívio" , diz Carvalho. "Todos precisamos fazer isso de vez em quando. Se não faz, tem algum problema."

Mais recentemente, diz o escritor, o português falado em Portugal incorporou alguns insultos comuns no Brasil, um efeito colateral do sucesso das novelas brasileiras por lá.

"Há algumas décadas, nenhum português sabia o que significava cafajeste ou brega, por exemplo. Ao mesmo tempo, puto não é um insulto em Portugal, quer dizer 'rapaz'."

Ele dá ainda alguns outros exemplos a quem deseja ampliar o seu repertório de ofensas com alguns termos correntes além mar.

"Em vez de xingar alguém de ladrão, pode dizer filibusteiro. Ou chamar um burocrata de manga-de-alpaca. Ou dizer que uma pessoa diabólica é mefistofélica."

"Insultar é uma arte. Há muitas formas de fazer isso. Há o jeito grosseiro, que usamos no trânsito e uma forma elegante, que costumava ser usada nos velhos parlamentos. É o insulto fino", diz Carvalho.

"No último século, esse jeito elegante deixou de ser usado no universo parlamentar, que caiu muito de nível."

Mas, como mostra a discussão entre Barroso e Mendes, segue em prática em alguns tribunais.

Insultos cultos de A a Z

Uma seleção de palavras para quando você precisar xingar alguém, mas não quiser descer do salto.

Abantesma: Assombração, figura que assusta, espectro. Pessoa cuja presença causa desconforto, repugnância. Vem do grego phántasma.

Bonifrate: Boneco articulado e movido para representar cenas. Pessoa dócil que age comandada por outro. Fantoche. A origem do termo é nebulosa, mas parece que seja derivada do latim: bonus + frater - bom irmão.

Concupiscente: Pessoa que tem desejo irrefreável pelo gozo. Luxurioso, lascivo. Essa ânsia pode ser por bens materiais ou pela posse sexual. Ou por ambas simultaneamente. Um concupiscente é voraz, tarado. O conhecimento exato do termo, em alguns ambientes sociais, pode transformá-lo em elogio. A palavra é latina.

Dendroclasta: Destruidor de árvores, agressor da natureza. Do grego dendron - árvore - e klatos - quebrado.

Espurco: Sujo, sórdido, torpe, que vive na espurcícia. Vale para o indivíduo que aprecia a imundície e se apresenta imundo. Usa-se, ainda, para a pessoa moralmente suja. "Nasceu e cresceu num chiqueiro moral e é tão espurco quanto o meio onde vive."

Futre: Do francês froutre . Homem desprezível, vil. Pode, também, ser sinônimo de avarento.

Grasnador: Indivíduo que fala com voz desagradável, que grasna como o corvo ou o pato.

Histrião: No antigo teatro romano o histrione era o comediante que representava farsas. Designa o sujeito ridículo, farsante, palhaço ou charlatão. "Foi eleito, mesmo sendo um histrião ou, talvez, por isso."

Intrujão: Se um sujeito que se aproxima de um grupo e finge participar de seus valores e atividades com o objetivo de enganar os seus membros e obter vantagem para si próprio está cometendo uma intrujice. "Quem iria desconfiar daquele intrujão golpista? Ele parecia o mais bonzinho de todos..."

Jacobeu: Nome dado ao partidário de uma seita fanática que apareceu em Portugal no século XVIII. Acabou designando um sujeito hipócrita, falso.

Liliputiano: Baixinho como os habitantes de Lilipute. Em As Viagens de Gulliver, o escritor inglês Jonathan Swift (1667-1745), descreve um país imaginário, Lilliput, onde tudo era muito pequeno, inclusive os seus habitantes. Aplica-se não apenas às pessoas de baixa estatura, mas aos que são moral e intelectualmente reduzidos.

Misólogo: O que tem aversão ao raciocínio, à lógica, à ciência. Do grego miséo - odiar + lógos - palavra, estudo.

Nóxio: Nocivo.

Obnubilado: O que tem o pensamento obscuro e lento. Obnubilare, em latim, é "cobrir como nuvem". Emprega-se no caso da incapacidade de enxergar com clareza. O obnubilado é o que está em campo escuro, sem a luminosidade necessária à visão.

Peralvilho: Indivíduo que se veste para estar elegante e só consegue ser ridículo. É o metido a elegante sem o ser. Janota, almofadinha.

Quebra-louças: Pessoa desastrada, que provoca confusão.

Réprobo: Perverso, malvado. Do latim reprobu.

Soez: Vil, reles, ordinário.

Traga-mouros: Homem brutal, violento.

Usurário: Usura é palavra latina para juro de capital. O usurário é o que exige juros altos pelos empréstimos feitos a quem precisa de dinheiro. Agiota.

Valdevinos: Pode ser vagabundo, um esperto que vive à custa dos outros. Ou um doidivanas, amalucado. É derivado do nome próprio Balduíno ou Valdovinos, um cavalheiro que aparece nos romances de cavalaria que, em séculos passados, tornou-se popular. O personagem transformou-se em substantivo comum.

Xenômano: Que tem mania por tudo que vem do exterior. É o oposto do xenófobo que despreza o que é de fora. A xenomania leva o sujeito a gostar do ruim porque tem um rótulo estrangeiro e a menosprezar o melhor porque tem um rótulo com texto em sua própria língua.

Zoantropo: Pessoa perturbada mentalmente que se sente transformada em um animal. Vítima de zoantropia. Do grego zôon -ser vivo + ánthropos - ser humano.

(Fontes: www.terra.com.br e Dicionário Brasileiro de Insultos - 2002, Ateliê Editorial)

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5 Comentários

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Uma pérola! continuar lendo

Esse texto me fez recordar um professor de Química que tive e que adorava chamar um dos alunos mais bagunceiros que havia na turma de oligofrênico, era o xingamento máximo dele, rsrsrs continuar lendo

Maravilhoso o texto! Adorei, com certeza utilizarei hehehe continuar lendo

José Eduardo Faria adverte em suas obras sobre a função onírica do direito, ou seja, a ideia de que o Poder Judiciário deva ser respeitado, faz com que os Tribunais se manifestem em linguagem pouco acessível ao homem médio, isso é feito para incutir certos fatores de coerção - isso talvez explique porque, muitas vezes, temos a impressão de que a linguagem nos Tribunais Superiores ainda utilize cartolas e polainas. continuar lendo