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24 de Abril de 2024

Enquanto muitos querem uma arma de fogo, juiz que foi ameaçado decidiu se desarmar

Publicado por DR. ADEvogado
há 5 anos


Em 15 de janeiro deste ano foi publicado decreto presidencial para regulamentar a posse de arma de fogo no Brasil. Pelo texto, cumpridos os requisitos, o cidadão poderá ter posse de até quatro armas. Muita gente se animou e manifestou o interesse em comprar uma arma para se proteger ou para proteger a família da violência. Entretanto, nem todo mundo pensa assim. Há até quem mesmo podendo andar armado, decidiu ir contra a corrente e se desarmar.

O juiz José Henrique Kaster Franco, 44 anos, veio para Mato Grosso do Sul há 17 anos, quando ingressou na magistratura. Por já ter atuado em varas criminais e ter recebido ameaças, tinha porte e andava armado. Três situações fizeram com que ele mudasse de ideia e entregasse a arma à Polícia Federal. Ele afirma que portar uma arma realmente dá a sensação de segurança, mas, na prática, a situação é outra.

“Ter arma gera uma ilusão de segurança que acaba aumentando os riscos para as pessoas. Não só porque a gente não evita crime, se alguém quiser te assaltar, te espera e te pega de surpresa. Ela não evita, por exemplo, estupro, mesmo porque a gente já sabe que a maioria dos estupros acontece em casa, às vezes com gente que é até amigo da família e as vítimas são crianças na maioria”, explica o juiz.

Na fronteira

Franco atuou em Ponta Porã, entre 2006 e 2009. Nessa época, andava armado após o julgamento de um caso que envolvia o diretor de um presídio.

“Eu tinha essa falsa sensação de que a arma evita um crime. Até que eu era juiz na fronteira e tive um problema com um diretor de presídio, que tive que afastar, porque ele vendia regalias aos presos. Eu andava armado e um dia eu fui à padaria e vi que duas pessoas pararam do meu lado, em motocicletas. Eu vi que até eu me lembrar da arma e tentar sacar, eu já estaria morto”, relembra.

Apesar de ter percebido ali que, mesmo sabendo atirar, nada garantia que ele conseguiria lidar com um ou mais criminosos que tentassem atacá-lo, ele permaneceu com a arma.


Furto de arma e o PCC

O juiz então foi para Nova Andradina, onde atuou em um caso envolvendo a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele recebeu ameaça e outra situação fez com que ele repensasse ter uma arma em casa.

“Tinha duas armas e me roubaram uma de dentro de casa. Eu era juiz da cidade, todo mundo me conhecia e mesmo assim levaram. Mas, eu insisti na arma com a falsa ilusão de que eu poderia me defender.

Até que eu julguei um conjunto de processos que envolvia membros do PCC. Alguém ligou na promotoria e disse assim: nós vamos entrar na casa do juiz e da juíza [a mulher dele também é juíza]. Foi a minha arma que me ajudou e me protegeu? Nada. Eu tive que acionar a Polícia Militar. A minha arma não adiantou de nada”, avalia.


O filho

O terceiro episódio fez com que o juiz desistisse e entregasse a arma à Polícia Federal. O filho, que na época tinha oito anos, pegou a arma, que ficava guardada em cima de um armário, e mostrou para um amiguinho.

“O pior foi o dia em que a minha mulher me ligou desesperada, que a mãe de um amiguinho do meu filho falou com ela, dizendo que o meu filho mostrou a minha arma. A gente ficou chocado. Colocou a vida do meu filho em risco e a vida do menino que estava na minha casa.

A decisão de entregar a arma à Polícia Federal envolveu as três situações e a experiência como juiz e estudando a área. Franco diz que a mulher, apesar de também poder ter uma arma por conta da profissão de juíza, sempre foi contra.

“Ela não tem [arma] e odeia. Ela pode ter arma e sempre achou que não deveria ter em casa. Eu demorei anos para aprender o que ela já sabia. Eu aprendi que não adianta nada. Imagina se há um disparo nessa situação dos meninos? A gente acha que esconde as coisas das crianças, mas não dá para segurar a curiosidade de uma criança".


Mais armas, mais riscos

Franco é doutor em direito penal e estuda a área. Ele explica que há estatística que apontam que andar armado aumenta o risco para a pessoa.

“Depois desses anos, teve mestrado, doutorado e pós-doutorado. A maioria [das estatísticas] fala que, você estar armado não só não te ajuda em nada, mas aumenta o risco de você ser vítima de homicídio, aumenta os riscos de violência doméstica, porque a arma acaba sendo usada pelo próprio esposo para ameaçar e às vezes até para matar. Muitas armas acabam como a minha arma, furtada e entrando no mercado ilegal".

Franco cita ainda que para cada porcentagem de armas que entram no mercado, aumenta o número de homicídios. "Tem um monte de estudos sobre isso. Aqui é o país que mais mata gente por arma de fogo no planeta. É como se você vivesse em um país cheio de diabéticos e agora, dizer que para combater diabetes, o governo vai liberar o uso de açúcar para o povo todo".

Um dos argumentos que sempre são levantados em favor da posse de arma é segurança das mulheres, no sentido de que ter uma arma em casa evitaria assaltos e estupros. Sobre isso, o juiz diz que a maior parte dos casos de estupros não são de invasões em casas.

“Imagina uma cena de filme, porque só assim. Eu tenho quase 20 anos de judiciário e nunca vi isso. Eu estou lá dormindo e alguém está sendo estuprado no quarto do lado e eu vou lá salvo. Não existe isso na vida real. Se alguém quer entrar na sua casa, eles te rendem na entrada da casa, pode até mesmo estar com uma arma na cintura. Mesmo que eles não entrem, vão sempre te pegar de surpresa. Não vão ligar para você e falar: se prepara que eu vou aí estuprar você. E, a grande maioria dos estupros não acontecem assim, que entram em uma casa com uma arma. A maioria dos estupros ocorrem com crianças até cinco anos, sem nenhuma arma”.

Outro ponto levantado pelo juiz são os crimes banais e suicídios que podem acontecer porque a pessoa tem uma arma em casa. “Há um alto índice de crimes banais que são cometidos porque há uma arma à disposição. Eu julguei muitos casos de homicídios que eram casos banais. Não é que sejam criminosos. É gente normal que perdeu a cabeça”.

Embora o problema da violência seja algo que aflige a todos, ele diz acreditar que as armas não são para a população civil se proteger. “Esses anos, seja na vivência de juiz, seja na vivência de pai e seja na vivência de quem estudou a fundo isso, eu me convenço que arma é coisa para policial. Para quem é pago para isso, quem recebe treinamento para usar a arma. Armar a população civil é ir à contramão do mundo inteiro que quer desarmar as pessoas. Ainda mais aqui, em Mato Grosso do Sul, que temos números endêmicos de violência doméstica”.

O juiz analisa que entre as soluções para o problema da violência estão a valorização do polícia, a estruturação da investigação e a valorização das pessoas. “Tem um monte de coisas que a gente sabe que diminui a criminalidade como, por exemplo, escola de tempo integral, esporte para a meninada e ensino profissionalizante”.

Nadando contra a corrente, o juiz diz acreditar que a população deve confiar na polícia e exigir a segurança do Estado.

“Eu acho que ela [população] tem que confiar na polícia e o cidadão tem que exigir que o Estado cumpra a sua função e não delegue para o cidadão. Ele [o Estado] não pode sair com uma solução fácil: olha cidadão se vire você mesmo.


O Estado existe para garantir a segurança das pessoas e o cidadão tem que exigir. Se a gente for depender de nós mesmo, isso vai virar uma selva. Simplesmente vão te assaltar, vão te roubar, vão te estuprar e não vai ser a sua arma no cofre que vai salvar. Infelizmente, as pessoas estão fartas de violência, mas não tem solução fácil para problema difícil”.

(Fonte: www.campograndenews.com.br)


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25 Comentários

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Que reportagem mais sem sentido. Primeiro, se o Juiz quis fazer isto sinceramente, deveria ter feito sem chamar atenção, ou seja, tá parecendo que ele quer mídia para esta atitude desprovida de convicção. Segundo, se ele tem uma arma, como assim devolver à Polícia Federal? Foi a PF que forneceu o equipamento para ele? Ou ele está com tanto dinheiro sobrando assim que resolveu abrir mão de vendê-la? Terceiro, se ele quis proceder desta forma, parabéns para ele. Ele é livre para fazer as escolhas que entenda ser o melhor para ele e a questão é justamente esta, liberdade. Eu quero exercer a minha e ter uma arma. É minha escolha e os riscos decorrentes são meus, assim como as consequências. continuar lendo

E não é que é simples?? continuar lendo

E a pergunta que não quer calar: como um sujeito que com a caneta decide a vida de outras pessoas é incapaz de guardar adequadamente uma arma de fogo dentro de sua própria residência?

É cada uma... continuar lendo

Perfeito. Se ele acha interessante não portar arma, que devolva a dele, mas não tire o meu direito de possuir uma. Ele não é obrigado a portar arma assim como eu. Agora temos escolhas. Quanto ao fato do filho dele manejar a arma, foi uma baita irresponsabilidade dele que deixou a arma ao alcance da criança. continuar lendo

Poxa, me convenceu! Jogarei todas as minhas convicções no lixo já que um juiz abriu mão na arma dele! Muito obrigado. Peço que compartilhe mais das opiniões do juiz para que eu possa aplicá-las na minha vida.

"Depois desses anos, teve mestrado, doutorado e pós-doutorado. A maioria [das estatísticas] fala que, você estar armado não só não te ajuda em nada [...]"

#1 Um estudo publicado pela Universidade de Harvard — Harvard Journal of Law & Public Policy — relata que países que têm mais armas tendem a ter menos crimes.

#2 Ao longo dos últimos 20 anos, as vendas de armas dispararam nos EUA, mas os homicídios relacionados a armas de fogo caíram 39 por cento durante esse mesmo período. Mais ainda: "outros crimes relacionados a armas de fogo" despencaram 69%.

#3 Ainda segundo o estudo da Harvard, os nove países europeus que apresentam a menor taxa de posse de armas apresentam taxas de homicídios que, em conjunto, são três vezes maiores do que as dos outro nove países europeus que apresentam a maior taxa de posse de armas.

#4 Quase todas as chacinas cometidas por indivíduos desajustados nos Estados Unidos desde 1950 ocorreram em estados que possuem rígidas leis de controle de armas. Com uma única exceção, todos os assassinatos em massa cometidos nos EUA desde 1950 ocorreram em locais em que os cidadãos são proibidos de portarem armas. Já a Europa, não obstante sua rígida política de controle de armas, apresentou três dos seis piores episódios de chacinas em escolas.

#5 Os EUA são o país número 1 do mundo em termos de posse de armas per capita, mas estão apenas na 28ª posição mundial em termos de homicídios cometidos por armas de fogo para cada 100.000 pessoas.

#6 A taxa de crimes violentos nos EUA era de 757,7 por 100.000 pessoas em 1992. Já em 2011, ela despencou para 386,3 por 100.000 pessoas. Durante esse mesmo período, a taxa de homicídios caiu de 9,3 por 100.000 para 4,7 por 100.000. E, também durante esse período, como já dito acima, as vendas de armas dispararam.

#7 A cada ano, aproximadamente 200.000 mulheres nos EUA utilizam armas de fogo para se proteger de crimes sexuais.

#8 Em termos gerais, as armas de fogo são utilizadas com uma frequência 80 vezes maior para impedir crimes do que para tirar vidas.

#9 O número de fatalidades involuntárias causadas por armas de fogo caiu 58% entre 1991 e 2011.

#10 Apesar da extremamente rígida lei desarmamentista em vigor no Reino Unido, sua taxa de crimes violentos é aproximadamente 4 vezes superior à dos EUA. Em 2009, houve 2.034 crimes violentos para cada 100.000 habitantes do Reino Unido. Naquele mesmo ano, houve apenas 466 crimes violentos para cada 100.000 habitantes nos EUA.

#11 O Reino Unido apresenta aproximadamente 125% mais vítimas de estupro por 100.000 pessoas a cada ano do que os EUA.

#12 Anualmente, o Reino Unido tem 133% mais vítimas de assaltos e de outras agressões físicas por 100.000 habitantes do que os EUA.

#13 O Reino Unido apresenta a quarta maior taxa de arrombamentos e invasões de residências de toda a União Europeia.

#14 O Reino Unido apresenta a segunda maior taxa de criminalidade de toda a União Europeia.

#15 Na Austrália, os homicídios cometidos por armas de fogo aumentaram 19% e os assaltos a mão armada aumentaram 69% após o governo instituir o desarmamento da população.

#16 A cidade de Chicago havia aprovado uma das mais rígidas leis de controle de armas dos EUA. O que houve com a criminalidade? A taxa de homicídios foi 17% maior em 2012 em relação a 2011, e Chicago passou a ser considerada a "mais mortífera dentre as cidades globais". Inacreditavelmente, no ano de 2012, a quantidade de homicídios em Chicago foi aproximadamente igual à quantidade de homicídios ocorrida em todo o Japão.

#17 Após essa catástrofe, a cidade de Chicago recuou e, no início de 2014, voltou a permitir que seus cidadãos andassem armados. Eis as consequências: o número de roubos caiu 20%; o número de arrombamentos caiu também 20%; o de furto de veículos caiu 26%; e, já no primeiro semestre, a taxa de homicídios da cidade recuou para o menor nível dos últimos 56 anos.

#18 Após a cidade de Kennesaw, no estado americano da Geórgia, ter aprovado uma lei que obrigava cada casa a ter uma arma, a taxa de criminalidade caiu mais de 50% ao longo dos 23 anos seguintes. A taxa de arrombamentos e invasões de domicílios despencou incríveis 89%.

#19 Os governos ao redor do mundo chacinaram mais de 170 milhões de seus próprios cidadãos durante o século XX (Stalin, Hitler, Mao Tsé-Tung, Pol Pot etc.). A esmagadora maioria desses cidadãos havia sido desarmada por esses mesmos governos antes de serem assassinados.

#20 No Brasil, 10 anos após a aprovação do estatuto do desarmamento — considerado um dos mais rígidos do mundo —, o comércio legal de armas de fogo caiu 90%. Mas as mortes por armas de fogo aumentaram 346% ao longo dos últimos 30 anos. Com quase 60 mil homicídios por ano, o Brasil já é, em números absolutos, o país em que mais se mata.

Todas as fontes estão no artigo: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1974

Outros artigos sobre o tema:

https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2626 (As lições do Espírito Santo - uma população sabidamente desarmada é um deleite para a bandidagem)
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=975 (Como o porte irrestrito de armas garantiu a liberdade dos suíços)
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2176 (Porte de armas nos EUA cresce 178% em sete anos; criminalidade despenca)
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2935 (O governo proibir o porte de armas é, acima de tudo, um problema de ordem moral)
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2146 (A arma de fogo é a civilização)
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2147 (O estado é cúmplice dos 50 mil homicídios que ocorrem anualmente no Brasil) continuar lendo

Tá, e aí????????? Viva a democracia! Ele optou por ser um cordeiro, uma presa fácil e sem defesa. Eu não. Ah, não esqueçamos que juiz de Direito tem segurança pública garantida dentro do seu local de trabalho e pode requisitar segurança (pública também!) como escolta se comprovado for o pedido.

Arme-se. Defenda-se. É seu direito possuir e portar arma de fogo para a defesa pessoal. Quem não quiser não possua nem porte. Pronto. Só não venha encher o saco com essas ladainhas histéricas quem quer ter o direito de exercer a sua própria defesa.

Fraterno abraço. continuar lendo